Sustentável, algodão orgânico e colorido pode ser encontrado em forma de fios para artesanato
Parceira com produção de algodão orgânico e colorido da Paraíba é um dos motivos para a Made by You, de SC, ser a única empresa do país a vender fios 100% orgânicos
Imaginem uma pequena cidade da Paraíba, com o nome de Ingá, como exemplo e cenário de uma história que mistura a produção de algodão 100% orgânico, a agricultura familiar, o resgate histórico e a sustentabilidade. No enredo, temos um município de poucos habitantes, cerca de 18 mil, segundo o IBGE, mas com uma cultura forte de cultivo de algodão, que chegou a ser considerado um dos maiores produtores do país na década de 1940. Com o passar dos anos, além da entrada da China e da Índia no mercado de produção de algodão em larga escala, vieram as pragas, que destruíram lavouras e deixaram entre os moradores um rastro de medo de inseticidas, com mortes e danos irreversíveis, isso no início dos anos 1980.
O tempo passou, e a produção do algodão voltou a cruzar o caminho da cidade. Desde 2021, é desenvolvido na localidade, e em vários outros municípios da Paraíba, um programa que envolve a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o governo local, agricultores e indústrias focadas em diminuir o impacto da fabricação têxtil para o meio ambiente.
Para contornar a insegurança diante de uma produção livre de venenos e de práticas que coloquem em risco o selo de “orgânico”, a Embrapa entra em cena com novas técnicas, com tecnologia, oferecendo suporte e orientando pequenos produtores em assentamentos rurais e comunidades tradicionais (quilombolas) da Paraíba.
Se por um lado fica garantida uma produção diferenciada de um produto reconhecido internacionalmente, por outro, temos assegurado o desenvolvimento econômico das famílias envolvidas na produção, que além de não ter suas vidas expostas a produtos químicos, ainda conseguem uma renda garantida e, segundo a própria Embrapa, com o melhor preço por quilo do Brasil.
Um dos maiores parceiros do projeto é a Natural Cotton Color, liderada por Francisca Vieira, que trabalha 90% com algodão e é formada por um grupo de empresas que faz parte do Arranjo Produtivo Local (APL) do Algodão Colorido da Paraíba. Nele estão reunidos a associação de agricultores e de artesãos, entidades públicas e privadas, além de empresas de fiação e tecelagem, confecção e vestuário. Francisca trabalha desde 2005 em busca de uma cadeia produtiva sustentável e por produtos reconhecidos internacionalmente pela qualidade e propósitos envolvidos em todo processo de produção.
O algodão foi inicialmente estudado e aperfeiçoado pela Embrapa, cujas pesquisas resultaram em um produto que possui uma característica que dá ainda mais visibilidade ao resultado final. A matéria prima já nasce colorida, além de carregar a qualidade na fibra já conhecida dos algodões brancos.
A pluma não necessita de qualquer tipo de tingimento químico, o que gera uma economia de 87,5% da água que seria consumida num processo convencional de produção e acabamento de malhas, tecidos ou linhas. E se economiza água, quer dizer que também poupa energia, acontece o efeito dominó ao inverso, e todos ganham com isso.
Além de economizar com o tingimento, mesmo plantado em região de baixo índice pluviométrico (semiárido), o cultivo do algodão é feito sem irrigação, o que gera ainda mais ganhos.
Origem das cores do algodão 100% orgânico
O algodão colorido, segundo a Embrapa, é tão antigo quanto o algodão de fibra branca, como mostram registros arqueológicos encontrados no Peru 2.500 a.C, e no Paquistão 2.700 a.C
Aqui no Brasil, são realizadas pesquisas com algodão colorido desde 1990. No início, foram utilizadas sementes de plantas de algodoeiro colorido encontrados na região nordeste e as recebidas de bancos de germoplasma de outros países.
Foram aplicadas técnicas de melhoramento genético convencional para cruzar essas plantas de fibra colorida com as de fibra branca com boa qualidade e as características agronômicas necessárias para o seu cultivo. Após vários anos de seleção, a fibra, que já teve como característica ser curta e fraca, adquiriu a qualidade adequada para fabricação de fios e tecidos.
Com os estudos, foram lançadas cinco variedades em diferentes tonalidades, que vão do verde-claro aos marrons: claro, escuro e avermelhado. A primeira foi a BRS 200 Marrom, lançada em 2000, em seguida veio a BRS Verde, em 2003, e a BRS Safira e a BRS Rubi, ambas em 2005, e por último, a BRS Topázio, lançada em 2010. Pesquisadores da Embrapa continuam trabalhando para desenvolver novas tonalidades de algodão colorido.
CONHEÇA AQUI O FIO #72 DA MADE BY YOU 100% ALGODÃO ORGÂNICO
Por que apostar na sustentabilidade
Para entender de fato o valor agregado a peças produzidas com material orgânico, em processos que respeitam a natureza como um todo, é preciso olhar com atenção para números da indústria têxtil.
O Brasil é o quarto maior produtor mundial de algodão e, dentre as fibras produzidas no país, lidera com mais de 90% da produção. Ainda que tenha a vantagem de ser uma fibra natural, o algodão deixa um rastro pesado no meio ambiente. Segundo o relatório Fios da Moda, que faz uma avaliação qualitativa e quantitativa do quanto as fibras têxteis têm contribuído para a crise climática e a desigualdade social, trata-se da quarta cultura que mais consome agrotóxicos, sendo responsável por aproximadamente 10% do volume total de pesticidas utilizado no Brasil, com uma aplicação média de 28 litros de pesticidas por hectare — mais do que o dobro aplicado na soja, commodity que recebe 12 litros por hectare.
Além disso, olhando em um cenário mais amplo, a indústria da moda é a segunda mais poluidora do mundo, atrás apenas da indústria petrolífera. Levantamento publicado pela Global Fashion Agenda, organização sem fins lucrativos, divulgado pela Agência Brasil, aponta que mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartados em anos recentes. E a projeção é de um aumento de 60%, ou mais de 140 milhões de toneladas nos próximos oito anos.
Quando a sustentabilidade soma forças ao artesanato
Não é de hoje que o movimento em busca de um consumo mais sustentável vem tomando corpo e faz parte de nosso dia a dia. A palavra “orgânico” está cada vez mais presente e traz à tona discussões que vão desde o consumo consciente até o apoio a práticas de manejo de matéria prima que não usam substâncias tóxicas em seus processos conscientes e inovadores.
O exemplo cultivado no nordeste do país vem de encontro ao artesanato. É preciso entender que o algodão orgânico pode se transformar em peças de roupas por várias técnicas, inclusive pelo trabalho manual, como tricô e crochê.
Entre as parcerias que jogam uma luz para todo o projeto de produção de algodão orgânico colorido no interior da Paraíba está a Made By You, empresa catarinense e única marca brasileira a desenvolver um fio para crochê e tricô 100% algodão orgânico.
Foram criados dois fios, o Fio #81 e o Fio #72 vendidos separados e em forma de kits artesanais práticos e descomplicados, com todas as ferramentas necessárias, instruções escritas e videoaulas, que atendem até pessoas que não entendem nada de artesanato. Com aspecto macio, os fios deixam a peça tecida com o caimento e o toque muito suaves. Além disso, a superfície do produto é mais opaca para valorizar ainda mais os pontos criados. O produto é classificado como biodegradável, pois sua decomposição é rápida comparada aos produtos tradicionais, e como é colorido naturalmente pela natureza, é hipoalergênico, ideal para ser usado por bebês e pessoas alérgicas.
A empresa Made by You possui o certificado Eureciclo, com um modelo de compensação ambiental, que consiste em destinar de forma ambientalmente correta uma massa de resíduos equivalente à massa das embalagens que uma empresa coloca no mercado, e foi convidada para participar e produzir a série Fibra.s, idealizado pelo Instituto Urdume, que teve um dos capítulos dedicados ao algodão orgânico colorido da Paraíba.
Assista o Capítulo Algodão Orgânico da Paraíba da serie Fibra.s
texto by Cristiane Cordioli
