POR EXISTÊNCIAS FEMININAS POTENTES
Trajetórias de mulheres artesanais que inspiram
Somos resistência e em nossas trajetórias pessoais, nos encontramos umas nas outras, porque ser mulher é também ser plural, porque as nossas conquistas hoje, foram reivindicadas por tantas outras mulheres no passado.
Talvez o fazer artesanal seja feminino (e isso não quer dizer que não seja uma prática masculina), mas essa disposição de se atentar ao mundo e ao outro num ritual de atenção plena, de averbar memórias em coisas que sobrevivem nossa vida inteira, de ter cautela, observar com sensibilidade, juntar, unir e tramar sonhos, são impressões de mulheres que acreditam em sua força.
Três mulheres se juntaram a (re)existência da Made by You, em trabalhos de cocriação e colaboração, para contar um pouco mais sobre suas trajetórias, inspirar, ativar sensibilidade e empoderar.
A Edglória redesenhou a sua vida quando descobriu, através do artesanato, a sua liberdade. Ela participa do projeto Recriar, no Instituto Bia Waccholz, em Blumenau. O projeto objetiva capacitar mulheres que se encontrar em situação de violência doméstica, através de oficinas de artesanato e empreendedorismo. Assim, junto com uma força coletiva de outras mulheres, ela passou a coordenar os passos da sua trajetória.
"O artesanato trouxe minha vida, minha independência financeira, minha autoestima, e de saber que eu posso fazer o que eu gosto. E mais do que tudo tem essa liberdade de fazer algo que você gosta, tem mudado muito a minha pessoa, traz alegria, me traz satisfação."
Inquieta e criativa, entre fitas, tecidos, agulhas, botões, missangas e um espaço todo recriado para ela, em seu novo ateliê, ela conta sobre todas as dificuldades que muitas de nós, infelizmente, passamos. Mas o sorriso e a brisa que vem da janela, alcançam seu olhar, cheio de brilho, e de quem já entendeu há algum tempo, que nós mulheres, somos donas da nossa própria existência. Edglória anda hoje sobre sonhos que projetou, não desistiu, se uniu a outras mulheres, aproveita cada oportunidade para aprender, ouvir e inspirar outras mulheres.
“Todas podemos fazer o que queremos, nunca deixar ninguém falar que não podemos. Porque somos a criação perfeita de Deus. Ele nos fez tão especial, que não há nada que nós mulheres não podemos fazer. Todas nós mulheres somos lindas, fortes e guerreiras”.
E assim ela vai costurando corações, por amor, que ela permitiu ter por ela mesma.
Também tem a Ana, “arquiteta, ceramista, aquariana e canhota”, ela cocriou com a Made by You a Coleção de Cerâmicas, num ritual artesanal de plenitude, onde os as mãos moldam a barro gelado e criam experiências que transbordam sensações. A Ana é assim, um mix de sensibilidades experimentadas, ela sugere que nós podemos ser uma soma de coisas, descobrir diferentes formas de ser, e devemos nos permitir experimentar.
“Um propósito pessoal é me desafiar, enxergar mais de mim aqui dentro, me auto conhecer e transmitir o que há em mim para as peças”
Quando ela revela esse momento do fazer artesanal, na criação de suas cerâmicas, é possível perceber que a leveza na luz que entra e se expande no ambiente, se espalha com leveza criando uma textura de afago e conforto. Assim como o cuidar das plantas ou o preparo no café, para Ana, a filosofia artesanal é uma prática cotidiana que ela incorpora em cada movimento do dia.
“Ser artesanal é apreciar o simples. E é doar-se.”
Enfim, a Sheila, mãe, modelo, digital influencer e acadêmica de direito, sobre seus patins em movimentos contínuos e também elegantes, ela já demonstra qual o seu papel no mundo: inspirar outras mulheres. Apesar de jovem, a Sheila já despertou a compreensão de sua própria trajetória, e espera com isso inspirar coragem, amor e força para nós.
“Sou alguém que busca inspirar outras mulheres a seguirem seus sonhos, sem deixar que outras pessoas definam o rumo de sua vida.”
É no desafio de criar um filho, estudar e trabalhar, que ela determina seus princípios, foi quando decidiu ser mãe que ela descobriu que e era mais forte do que imaginava, fez ver que é capaz de ser alguém com importância e que tudo o que almejava, seria capaz de conquistar. Como mãe ela também provoca diálogos com o seu filho, afim de quebrar paradigmas que são impostos pela nossa sociedade.
“Converso com ele sobre a errada ideia de que as mulheres são frágeis e os homens superiores. Tento evitar falar frases machistas ou que tendem a dividir brincadeiras, atividades ou cores entre coisa de menina e coisa de menino. Falo sobre a importância dele nas tarefas de casa, sobre como ele pode ajudar a mamãe e também mostro alguns filmes de super heroínas famosas que ele adora.”
O artesanal complementa seus anseios por criar um mundo melhor, com menos desigualdade de gênero, com mais consciência sobre aspectos ambientas e de consumo, fazer crochê para ela é também uma forma de autocuidado, como uma terapia. Incorporar práticas artesanais é também sobre o resgate do saber feminino, um encontro com suas ancestrais avós, que lhe ensinaram e ainda a ajudam com o crochê, uma oportunidade de elas conviverem mais juntas.
“Saber fazer artesanato é lindo pois depositamos todo o nosso carinho e dedicação na confecção das peças, é muito gratificante poder presentear alguém com algo que você fez e não simplesmente comprou pronto em uma loja.”
Que a trajetória de muitas mulheres possa motivar gerações futuras para agir com amor e potência. Que possamos ser mais femininos e artesanais, para assim, sermos atenciosos, leves, empoderados, serenos e fortes.
by Lua Geiss
