FAÇA VOCÊ MESMO!
Peças lindas e cheias de personalidade ganham vida e trazem à tona valores como sustentabilidade e consumo consciente.
A avó, já cansada da labuta em muitos anos vividos, com os dedos trabalhados de histórias, sentada em sua confortável poltrona, segura a agulha do crochê e faz mágica, enquanto o cheiro bom de um bolo de laranja invade todo o ambiente. São toalhas, bicos de panos, trilhos para presentear as filhas: a produção parece não ter fim. Tem sentimento, afeto, contação de histórias e peças lindas, que nem sempre foram valorizadas.
A cena, acreditem, faz parte da lembrança de uma grande porção de brasileiros que cresceu envolvida com o trabalho manual, mas que só hoje volta os olhos para a importância e a praticidade de produzir suas próprias roupas com o uso do artesanato que, além de enfeitar camas e mesas, ganha ruas e passarelas mundo afora.
História que ultrapassa o tempo
E se engana quem acha que a prática de transformar linhas em roupas com o uso de agulhas é coisa de tempos recentes. Segundo a Escola de Artes Manuais, uma referência quando o assunto é o “feito à mão”, a origem é incerta, sendo atribuída tanto à pré-história quanto a 1500 anos antes de Cristo. Mas onde quer que essa arte tenha surgido, o fato é que ela se espalhou pelo mundo a partir do século 19, quando a francesa Riego de La Branchardière desenhou padrões que poderiam ser copiados pelas pessoas, chegando a publicar por volta de 100 livros para difundir a técnica. E o crochê vestiu homens em suas labutas, ultrapassou guerras, foi desvalorizado por muito tempo, por ser feito por pessoas humildes, e ganhou glamour ao virar passatempo de princesas e rainhas. Sobreviveu ao tempo e deu a cara para gerações como a hippie, por exemplo, marcada por sua moda colorida e com muito trabalho manual.
Linha, agulha e afeto
E no quesito sobrevivência, podemos citar a pandemia da Covid19 como mais um desafio para o trabalho manual, com o afeto tão presente no feito à mão se tornando um grande aliado. Segundo estudo do Google no segmento Beauty and Fashion Trends, a moda foi tomada por uma onda de sentimentos que fez crescer em 91,4% a venda de pijamas e moletons, de abril de 2020 a março de 2021. Entre os motivos, o conforto e a sensação boa proporcionada pelo contato com texturas macias e acolhedoras.
A partir do isolamento, os sentimentos tomaram as passarelas em forma de estímulos que vão além do encantamento ao olhar. O toque, por exemplo, virou elemento agregador de valor, fazendo com que um mix de materiais seja pensado e utilizado nas peças, justamente para encantar ao proporcionar variadas sensações. Marcas como a Sacai, da designer japonesa Chitose Abe, a brasileira Ateliê Mão de Mãe e peças de Ronaldo Fraga trabalham muito bem a proposta de estimular sentimentos e emoções em suas produções.
Faça você mesmo em alta
E se está nas passarelas, nada mais certo do que invadir, também, guarda-roupas, ruas e avenidas. Chegamos a 2023 com a arte do faça você mesmo em alta. De um lado, a vitrine dos grandes movimentos de moda, de outro, estímulos que vêm de peças usadas por protagonistas das principais novelas; aulas compartilhadas nas redes sociais, riscos e gráficos acessíveis e didáticos, sem contar nos inúmeros vídeos e cursos que ensinam até para quem nunca pegou uma agulha nas mãos. Existem possibilidades, como os kits disponibilizados pela marca de linhas Made by You, por exemplo, onde é possível comprar linha, agulha, gráficos e ainda ter acesso a videoaulas que indicam de forma didática e assertiva o caminho das pedras. São bolsas, roupas, uma infinidade de possibilidades que vão muito além de ter uma roupa da moda.
O valor da sustentabilidade
Abre-se um leque de possibilidades, onde o consumo consciente e a sustentabilidade ganham vida e poder. Além de conseguir optar entre peças que vão ao shopping e até à praia, como as ensinadas pela crocheteira Anne Galante, ou peças de luxo, como as produzidas pela estilista Vanessa Montoro, é possível escolher e entender com quais linhas queremos trabalhar, de onde elas vêm e qual é o impacto da produção do que vestimos para o mundo. O antiquado vira peça única, feita ponto a ponto, cheia de sentimentos e desafios. Uma tendência que já sobreviveu a vários verões e que estimula, também, o cuidado e a preocupação de empresas fabricantes de linhas em ter cada vez mais qualidade aliada à sustentabilidade. E estamos falando de linhas feitas de cânhamo, linho & viscose, cana-de-açúcar ou algodão orgânico da Paraíba, que por já ser cultivado colorido, gera uma economia de mais de 80% no consumo de água em seu processo de fabricação, por pular a fase de tingimento. Informações como essa são importantes não só para a fabricantes, como a empresa catarinense Made by You, que aposta em um mundo mais sustentável, mas, também, para consumidores atentos e preocupados em contribuir para o futuro da humanidade.
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by Cris Cordioli
